Sociologia na Pandemia 14#

 

GÊNERO, PROFISSÕES E HOME OFFICE NA PANDEMIA

Por Maria da Gloria Bonelli e  Rossana Marinho

 

As medidas de isolamento social voltadas para inibir a propagação do novo coronavírus produziram mudanças no funcionamento das instituições e têm se valido fortemente da mediação das tecnologias digitais. Uma das consequências foi o aumento da modalidade de home office para alguns segmentos profissionais. 

No Brasil, um estudo de mercado realizado pela SAP Consultoria em RH (2016), com 325 empresas de diferentes segmentos, apontou que 68% delas utilizavam algum tipo de teletrabalho [1], sendo que 37% adotavam o home office, principalmente na área de tecnologia da informação e telecom. Segundo a pesquisa, 1 em cada 13 funcionários praticava a modalidade home office. Em nota técnica publicada recentemente pelo IPEA [2], já se estima que o mundo pós-pandemia ampliará as atividades profissionais por via remota.

Se essa modalidade vinha apresentando expansão no país, com o isolamento social tal prática eclodiu, ganhando visibilidade nos meios de comunicação. Muitas reportagens mostram profissionais de nível superior em reuniões por aplicativos, no exercício do home office. Em várias matérias, prevalece a figura do profissional masculino branco, ilustrado por imagens que se distanciam da realidade brasileira. É o caso da divulgação dos resultados de uma pesquisa realizada com profissionais de empresas, a maioria startups, cuja ilustração é o pai usando o computador, com o filho no colo, sentindo-se produtivo, com boa estrutura em casa, embora os dados apontem que os entrevistados consideravam a presença da família e de pessoas próximas desfavorável ao trabalho remoto [3].  

Uma pesquisa recente sobre o teletrabalho e segmentação econômica (Neves e Cireno, 2020) procurou medir o impacto da Covid 19 como uma nova fonte de desigualdade, considerando o acesso ou não ao home office.  Os autores baseiam-se nos dados da PNAD Contínua de 2018 para estimar a probabilidade de homens e mulheres, negros e brancos, realizarem esse tipo de atividade, considerando a ocupação que tinham na PEA (população economicamente ativa). Foi identificado que as mulheres têm 31,2 % de alta probabilidade de fazerem home office, contra 18% para os homens.  Quanto à cor/raça, os resultados foram de 31% para os brancos e 17,5% para os negros. Tal acesso está relacionado ao grau de escolaridade mais elevado, produzindo exclusão para os homens negros e mais participação para as mulheres brancas. O trabalho remoto em domicílio manteve-se pouco visível até a pandemia. Feito majoritariamente por mulheres, ganhou o status social do lar, carregado de pressões do trabalho e da casa, que se sobrepõem ao longo do dia e entrecorta o foco nas tarefas profissionais.   

Os impactos da pandemia variam no tipo de ocupação e vamos focar em alguns grupos profissionais de nível superior, que estão realizando home office. Selecionamos profissões que apresentam composição de gênero diversa, o que permite a comparação entre elas: profissionais de tecnologia da informação (TI), carreiras jurídicas, acadêmicas e docentes do ensino médio.  Nas profissões jurídicas, as mulheres vêm ampliando sua participação, correspondem a 49.7% dos advogados inscritos na OAB, 40% dos docentes dos cursos de graduação em Direito e 37.3% da magistratura nacional. No meio acadêmico, as professoras universitárias são 45.5%, tendo crescido apenas 1% entre 2006 e 2016 [4]; estão distribuídas desigualmente entre as áreas, destacando a presença em Educação, Saúde e Bem Estar, Artes e Humanidades, Ciências Sociais, Jornalismo e Informação. Na docência do ensino básico como um todo, no Brasil, havia 81% de mulheres e no ensino médio essa proporção reduzia para 59.6%. Na área de Tecnologia da Informação, para profissionais e técnicos houve uma diminuição da participação relativa feminina, entre 2003 e 2014. Segundo Nunes (2016, p. 385), tal variação foi “de 25% para 17% para técnicos (principalmente programadores) e de 39% a 28% para profissionais (engenheiros de software e analistas de sistema, sobretudo)”.

O home office na área de TI já estava marcado por diferenças de gênero e raça antes do isolamento social. Trata-se de uma profissão com predomínio masculino branco, seja nos postos dirigentes (executivos e gerentes), nas posições intermediárias onde atua a maioria de profissionais (engenheiros e analistas) e nas funções técnicas (programadores). Abordando o trabalho remoto na pandemia, Castro (2020) destaca como homens e mulheres trabalhadores em TI têm percepções distintas sobre a produtividade no home office, com elas se sentindo improdutivas e eles mais produtivos. Segundo a autora, o conteúdo do trabalho e a forma como se usa o espaço da casa sustentam os sentidos dissonantes que encontrou nas entrevistas realizadas anteriormente à pandemia. Os homens informavam que recorriam ao home office algumas vezes na semana, para avançar em tarefas que eram mais difíceis de serem realizadas na empresa, devido às várias demandas de reuniões, de atenção à equipe e que isolados em casa, tendo a dedicação ao trabalho respeitada e às vezes um ambiente como escritório, conseguiam preparar relatórios e planilhas de execução sem interrupções. Se eles diferenciam o conteúdo do trabalho feito em casa e na empresa, elas fazem as mesmas atividades nos dois espaços: inserção de dados, desenvolvimento de código, revisão de produto final, calls. Trabalhavam na mesa de jantar, sem um espaço respeitado, sendo constantemente interrompidas por demandas da família, o que as levava a se sentirem improdutivas e exaustas. Embora já tivessem experiência nesse tipo de jornada flexível, na qual a empresa aciona a profissional na hora em que precisa, o contexto do isolamento social exacerbou a sobreposição das atribuições das mulheres, como também a carga mental e emocional que as acompanha.  

Quando o conteúdo do trabalho realizado por homens e mulheres é semelhante, possibilitando o controle do tempo, do espaço de trabalho remoto, do compartilhamento dos cuidados e afazeres da casa, a percepção por gênero sobre o teletrabalho se aproxima, o que tende a ocorrer nas posições superiores, com maior autonomia e poder profissional, como observado na reportagem sobre ampliação do home office após a pandemia, que relatava a vivência de uma diretora-presidente de uma consultoria na área de TI [5]. 

Sobre as profissões do Direito, as matérias têm dado preferência à elite jurídica, revelando junto com o home office um pouco do estilo de vida. Abordando a conciliação do trabalho e da vida privada [6], tema simbólico à profissionalização das mulheres que labutam, em uma das matérias o enquadramento enfocava apenas a perspectiva masculina: com o pai trabalhando na escrivaninha, participando das lições escolares das crianças, profissionais com escritórios bem equipados, bibliotecas pessoais, um deles degustando vinho no jardim de sua casa. Em outra imagem divulgada pela TV Justiça, pode-se ver o avô-ministro em sessão virtual do STF, com a neta entrando na cena, ao seu lado [7].  As imagens representam o “escritório em casa”, onde homens brancos especialistas, com espaço e condições confortáveis/apropriadas ao trabalho, se dedicam às suas atribuições. 

A pandemia colocou o home office em cena. Jogou por terra o mantra do ideário profissional que institui a fronteira entre casa e trabalho e, ao colocar os homens no ambiente residencial, alocou a prática remota para o espaço público. Expressões disso foram as diversas reportagens na grande imprensa sobre o home office da cúpula do sistema de justiça. Como isso ocorreu em um momento que há um contingente expressivo de mulheres profissionais, com uma parcela mobilizada na resistência à discriminação de gênero, a vocalização delas também ecoou. Elas buscaram cobertura jornalística para seu protagonismo, apontaram como as reportagens produziam viés implícito de gênero, que privilegia o home office masculino em detrimento do feminino, obtendo resultados na divulgação em  jornais e sites especializados.  Junto com o home office, mulheres profissionais deram transparência às formas sutis de desconhecer a relevância da contribuição profissional delas [8], repercutindo a força e o reconhecimento de que tal ausência precisava ser reparada [9]. Na representação das profissionais do Direito, há o registro das dificuldades de acesso e de estrutura para o trabalho remoto, do acúmulo da tripla jornada de trabalho, de cuidados e de tarefas da casa, sem o apoio da ida das crianças para a escola, do suporte de avós e da delegação do serviço doméstico às trabalhadoras [10]. Essa matéria dá alguma visibilidade às distintas condições de trabalho no isolamento social, no mundo do Direito feminino, destacando a presença de uma advogada negra, mãe solo, sem possibilidade de delegação dos cuidados com o filho, percebendo-se em prática profissional precarizada, exercendo a advocacia em um escritório que funciona em sua residência.   

Se há maior probabilidade de as mulheres realizarem home office, isso configura uma desigualdade no acesso às ocupações que realizam trabalho classificado como intelectual, em contraste àquele chamado de trabalho manual.  Assim, em uma perspectiva macro da estratificação ocupacional, o trabalho remoto exclui os trabalhadores negros, com menor escolaridade. Em uma dimensão intraprofissional, de menor amplitude, ao comparar especialistas da mesma profissão, o que salta aos olhos nesse recorte é o favorecimento dos homens brancos em relação às mulheres brancas. 

 

 O “escritório em casa”

 

Embora o home office seja mais feminino, quando traduzido para o português, o “escritório em casa” adquire uma roupagem mais masculina. A mulher trabalhando remotamente em sua residência raramente se refere a trabalhar em um ambiente dela, chamado de escritório. Muitas trabalham na mesa da sala, compartilhando-a com outros familiares, criança ou adulto que as interrompem na execução de suas atribuições profissionais com as demandas deles; outras, improvisam espaços em algum ambiente da moradia, usam o quarto, a varanda, o sofá, a cama, o corredor, o puxadinho, enfim, um canto onde realizam o trabalho intermitente. Se a mulher tem filhos pequenos ou em idade escolar, somam-se à sobrecarga de afazeres domésticos o acompanhamento da educação remota, o apoio emocional no isolamento, com a família confinada em um espaço ocupado o tempo todo. Os cuidados e a carga mental do apoio a parentes, alunos, colegas, também estão presentes para as mulheres profissionais sem filhos. A pandemia aumentou as tarefas de proteção a idosos e grupos de risco, ficando o vínculo e a maior parte do planejamento e execução desses cuidados com as mulheres. Além dessas complicações na gestão do cotidiano, as condições do home office tendem a ser mais desconfortáveis para quem não possui escritório em casa, havendo problemas de espaço, ergonomia, equipamentos, conexão, trabalhando com desconforto e interferência sonora, compartilhando dispositivos, realizando lives simultâneas das reuniões dos adultos e das aulas das crianças. 

A cena de um escritório em casa onde a profissional se instala sem ser interrompida com recorrência e dedica-se focada à execução de seu trabalho é rara, mesmo no isolamento social de profissionais de nível superior. Essa possibilidade tem relação com gênero, raça, posição na profissão, poder aquisitivo, faixa etária, espaço da moradia e pessoas na residência.  A maioria das imagens que simbolizam o home office douram a pílula, fantasiam sobre práticas do cotidiano, mostrando condições ideais pouco acessíveis. Isso pode resultar da motivação das empresas em dar visibilidade a seu perfeito funcionamento no atendimento de clientes, ao interesse em manter trabalho remoto para reduzir custos operacionais, e a própria descoberta dos profissionais que, na excepcionalidade da situação, usaram da criatividade no quadro de desorganização da emergência sanitária e conseguiram resultados satisfatórios.

Além das características que diferenciam o saber e o poder das profissões, o exercício profissional varia em decorrência das formas de organização e da natureza do trabalho, das bases de controle, entre outros fatores. O home office das carreiras jurídicas públicas, com garantias profissionais e alguma experiência em teletrabalho, se diferencia daquele da advocacia solo, nas empresas ou nas sociedades de advogados. Já os profissionais de TI têm maior familiaridade com o trabalho digital, podendo fazer uma transição para o isolamento social menos atabalhoada. Quanto aos professores, em especial os do ensino básico, muitos tiveram que aprender o uso de ferramentas e novos formatos de atividades didáticas para o oferecimento das aulas por meio remoto, além da disponibilidade de equipamentos pessoais. Entre as categorias abordadas aqui, essa é a mais feminizada, com jornadas intermitentes, acumulando os cuidados da família, da casa, da docência e do trabalho emocional de administrar os sentimentos decorrentes dessa exaustão. A administração das emoções representa uma jornada extra, que combina os códigos de gênero, encaixando na subjetividade essas regras de sentimentos. Nesse grupo, encontrar um “escritório em casa”, para separar o trabalho produtivo do reprodutivo, é difícil. Também são mais escassas as repercussões na imprensa sobre o home office da docência, na pandemia. O tema aparece em uma reportagem sobre profissões que enfrentam a exaustão, na qual entrevista um professor e o mostra trabalhando no sofá da sala [11].  As matérias sobre docentes no isolamento social têm mais visibilidade nos sites de Educação e neles observou-se a transposição de códigos de gênero da vida privada para a profissional, sumindo a expressão home office para se referir às atividades de ensino e aprendizagem, utilizando-se termos que remetem aos sentidos estabelecidos do feminino. Os textos nomeiam o exercício remoto da docência como “trabalhar em casa” [12], “escola em casa” [13], remetendo ao lugar de acolhimento e cuidado. Em vez de fotos de home office, o foco da câmera é mais fechado, mostrando o professor ou a professora e seu notebook, aparecendo pouco do ambiente. Em uma das matérias, percebemos um contraste entre as imagens que ilustram as condições de estudo e a de trabalho: os alunos em suas casas, dispostos em um espaço amplo e equipado enquanto uma professora aparece em um estúdio de gravação de aulas online, fora de casa. As representações sobre o trabalho docente, dispostas nas matérias analisadas, contrastam com as ilustrações e as narrativas dos demais grupos analisados.

 

A ciência no home office

 

Desde o início da epidemia de Covid 19, os cientistas vêm tendo grande presença nas mídias. Na TV, todos os dias eles e elas aparecem nas telas, a maioria em transmissões remotas de seus equipamentos em home office, comentando aspectos de saúde, sanitários, econômicos, sociais, entre outros, amplificando a confiança na ciência. Já as matérias sobre o trabalho dos  cientistas e docentes universitários na pandemia tiveram visibilidade inicialmente nos sites e publicações especializadas [14]. As formas como a rotina da ciência foram afetadas e deslocadas para casa são analisadas em sua diversidade e nos sentimentos ambíguos que os profissionais têm em relação ao trabalho nesse espaço. A diversidade de experiências e opiniões sobre o isolamento é extensa. Há aqueles que percebem a melhora na oportunidade para reflexão e a produção científica, homens e mulheres que se sentiam abarrotados de tarefas no ambiente acadêmico e encontram o tempo necessário. Vários sentiram a urgência de apoiar orientandos estressados com a interrupção dos seus projetos de pesquisa, tendo mais essa carga mental e emocional para lidar, além da produtividade acadêmica e da vida privada que se acumulou sob sua responsabilidade, como o apoio a parentes. Outros, viram-se extenuados pela sobreposição das atribuições de pesquisa, administrativas, didáticas, dos cuidados, dos afazeres domésticos, das aulas remotas de seus filhos [15] [16].

A relevância que a casa adquire no contexto do isolamento social ressalta as ambivalências nas relações de gênero. As formas como o exercício profissional na residência são nomeadas é um reflexo disso: home office, trabalho em casa, trabalho remoto, fazer ciência em casa. Tais matérias apresentam ilustrações e artes, mas não há fotos de especialistas trabalhando para a análise dessas representações. Cabe destacar que homens e mulheres são ouvidos, relatando suas experiências e visões sobre o fazer científico no contexto de isolamento social.

Outro aspecto que ganhou expressão e visibilidade foi o impacto da pandemia na redução da submissão de artigos por mulheres. O foco saiu do fazer ciência em casa para o não fazer ciência em casa.  O recorte do problema tomou como referência a preocupação de algumas publicações estrangeiras que registraram a diminuição na submissão. No Brasil, a pesquisa Parent in Science e o levantamento da Dados: Revista de Ciências Sociais também observaram o alargamento da distância na métrica da produtividade entre mulheres e homens [17]. No texto publicado na revista Dados [18],  a sobreposição do  trabalho produtivo e reprodutivo aparece em uma foto simbólica, sem crédito, de uma sala que tem em primeiro plano uma menina brincando, uma boneca ao seu lado e, ao fundo, uma pequena mesa de trabalho com uma mulher usando o notebook. A representação é bastante generificada dos sentidos do espaço da casa.  A pauta repercutiu no noticiário e os jornais deram cobertura ao tema, alguns carregando nas cores da improdutividade [19] [20]. Mulheres cientistas produziram análises críticas sobre os sentidos atribuídos às desigualdades de gênero na ciência, contribuindo com interpretações que não se restringiam à experiência da maternidade, problematizando a naturalização das representações sobre a casa e o trabalho em isolamento social, como aos prováveis retrocessos nas conquistas feministas como resultado da pandemia [21] [22].

 

Considerações finais

O contexto da pandemia realocou boa parte dos indivíduos para o ambiente domiciliar e nele fez coexistir jornada de trabalho e atividades domésticas e de cuidados, produzindo novas fronteiras, negociações e subjetividades. O home office, em tempos de pandemia, acabou por conferir visibilidade às forças que produzem a vida social no que dizem respeito à generificação e racialização das atribuições, sejam elas da vida privada ou ocupacional.

Segundo o levantamento realizado para nossa análise, a visibilidade online do “escritório em casa” associa-se à posição social da profissão e do status do profissional nela. Homens brancos da elite jurídica são privilegiados também nessa notoriedade, enquanto mulheres negras na advocacia solo expõem suas desvantagens na carreira e na vida privada, tornando públicas suas dificuldades. As mulheres profissionais brancas bem-sucedidas conseguiram reverter o apagamento, articulando sua contribuição destacada, ao mesmo tempo que assumiam os cuidados e afazeres da casa, questionando concepções de gênero que as mantêm imperceptíveis no rol de notáveis.   

Mesmo nas profissões de nível superior, a representação de experts negros e negras, bem como de profissionais em relações afetivas para além da heterossexualidade, ficam fora da cena no home office. A discriminação nestes casos não é sutil.  A presença das diferenças nas carreiras públicas e privadas no espaço acadêmico, jurídico, da educação básica ou de TI é uma realidade que exige reconhecimento social, dos pares e da mídia. Tornar o trabalho remoto dos especialistas visível ou invisível reflete as disputas dos grupos profissionais por sua imagem pública, sendo reforçada pelos enquadramentos realizados por sujeitos que respondem pelas reportagens e por matérias em sites. Não basta identificar o apagamento das diferenças na representação das profissões como um processo social de longa e persistente duração. É preciso atentar para as formas como nas interações cotidianas alguns colegas vão ficando de fora, são esquecidos quando lembramos de quem indicar ou sugerir para compor o panteão a ser consagrado.  

Observar o fenômeno do home office a partir da perspectiva de gênero e das diferenças nos permite visualizar como essa presença no grupo profissional requer mobilização contínua também por seu reconhecimento e visibilidade no teletrabalho, nas formas como enfrentam as várias jornadas e compartilham os afazeres da casa e dos cuidados.  

 

Maria da Gloria Bonelli é Docente do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da UFSCar.

Rossana Marinho é Docente do Departamento de Ciências Sociais e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal do Piauí.

 

Notas

[1] Trabalho realizado fora da empresa, por meio e tecnologias móveis, seja em home office, trabalho de campo, centros compartilhados, trabalho colaborativo.

[2] Potencial de teletrabalho na pandemia: um retrato no Brasil e no mundo. Disponível em: https://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/conjuntura/200602_nt_cc47_mercado_de_trabalho_iii.pdf . Acesso em 15/06/2020

[3] Disponível em: https://vocesa.abril.com.br/carreira/78-dos-profissionais-se-sentem-mais-produtivos-trabalhando-remotamente/. Acesso em: 15/06/2020

[4] Os dados sobre advogadas são do quadro de inscritos (OAB, 2020); das magistradas (Bonelli e Oliveira, 2020); das professoras universitárias (Jornal da Unicamp, 2018); das docentes (Carvalho, 2018); das profissionais em TI (Nunes, 2016).

[5] Disponível em: https://gauchazh.clicrbs.com.br/educacao-e-emprego/noticia/2020/06/empresa-de-consultoria-na-area-de-ti-vislumbra-ampliar-o-home-office-depois-da-pandemia-ckawu7l5c00eb015n3ydpy1b4.html. Acesso em: 10/06/20.

[6] Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/poder/2020/05/em-casa-procuradores-ministros-e-advogados-conciliam-processos-com-filhos-e-lives.shtml. Acesso em: 10/06/20.

[7] Disponível em:  https://g1.globo.com/politica/noticia/2020/06/03/neta-de-marco-aurelio-mello-aparece-em-sessao-virtual-do-stf-durante-voto-do-ministro.ghtml Acesso em 10/06/2020

[8] Disponível em :https://www.conjur.com.br/2020-mai-23/daniela-lustoza-invisibilidade-mulheres-pandemia. Acesso em 12/6/2020.

[9] Em coluna da Ombudswoman da Folha de São Paulo, Flavia Lima abordou como a mídia e seus jornalistas contribuem com a construção de um imaginário masculino das profissões jurídicas.  Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/flavia-lima-ombudsman/2020/05/mulheres-invisiveis.shtml. Acesso em 12/6/2020.

[10] As fotos neste link permitem perceber distintas condições de trabalho no isolamento social, no mundo do Direito feminino, destacando-se a presença de uma advogada negra, mãe solo, fotografando o espaço compartilhado com seu filho: https://www1.folha.uol.com.br/poder/2020/05/home-office-na-pandemia-amplia-desequilibrio-de-genero-na-justica.shtml.

[11] Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/sobretudo/carreiras/2020/04/home-office-na-pandemia-pode-levar-profissionais-a-exaustao.shtml. Acesso em: 10/06/20.

[12] Disponível em: https://educador.brasilescola.uol.com.br/noticias/coronavirus-professores-falam-dos-desafios-e-vantagens-de-trabalhar-em-casa/33270.html. Acesso em: 10/06/20.

[13] Disponível em: https://desafiosdaeducacao.grupoa.com.br/depoimentos-sobre-escola-em-casa/. Acesso em: 10/06/20.

[14] Disponível em: https://revistapesquisa.fapesp.br/o-desafio-de-fazer-ciencia-em-casa/.  Acesso em: 10/06/20.

[15] Disponível em: https://revistapesquisa.fapesp.br/maes-na-quarentena/. Acesso em: 10/06/20.

[16] Disponível em: https://revistapesquisa.fapesp.br/pesquisa-na-quarentena/. Acesso em: 10/06/20.

[17] Disponível em: https://adunifesp.org.br/maternidade-e-ciencia-em-tempos-de-pandemia-casa-comida-e-artigo-publicado/?fbclid=IwAR0oL_S2ejVzNMk9-rLtxgdM–ioIRu8Oq4xZlM6YnfrqC2MoS-soqB3zpQ. Acesso em: 12/06/20.

[18] Disponível em: http://dados.iesp.uerj.br/pandemia-reduz-submissoes-de-mulheres/. Acesso em: 10/06/20.

[19] Disponível em: https://oglobo.globo.com/celina/submissao-de-artigos-academicos-assinados-por-mulheres-cai-durante-pandemia-de-coronavirus-24428725. Acesso em: 10/06/20.

[20] Disponível em: https://ciencia.estadao.com.br/noticias/geral,producao-cientifica-de-mulheres-despenca-em-meio-a-pandemia-de-coronavirus,70003306675. Acesso em: 10/06/20.

[21] Disponível em: http://dados.iesp.uerj.br/pandemia-cientifica-feminista/. Acesso em: 10/06/20.

[22] SBS Convida: Gênero, trabalho e isolamento social, com Bárbara Castro (Unicamp), Bila Sorj (UFRJ) e Nádya Araújo Guimarães (USP e Cebrap)  Disponível em: https://www.youtube.com/watch?time_continue=3&v=lLvvWumn8pA&feature=emb_logo . Acesso em 19/06/2020.

 

REFERÊNCIAS 

 

BONELLI, Maria da Gloria e OLIVEIRA, Fabiana Luci (2020) Mulheres magistradas e a construção de gênero na carreira judicial. Disponível em: http://novosestudos.uol.com.br/wp-content/uploads/2020/06/08_bonelli_116_p142a163_b_vale.pdf . Acesso em17/6/2020.

CARVALHO, Maria Regina Viveiros de (2018). Perfil do Professor de Educação Básica. Brasília, DF, INEP.  

CASTRO, Bárbara. Trampos Podcast  #1Trabalho Remoto: Este será o novo normal?. Disponível em: https://open.spotify.com/episode/2vBiJgBwiGdh0LqquI2pGH. Acesso em 16/6/2020. 

JORNAL da UNICAMP (2018). Mulheres no ensino superior ainda são minorias apenas na docência. Disponível em  https://www.unicamp.br/unicamp/index.php/ju/noticias/2018/04/11/mulheres-no-ensino-superior-ainda-sao-minoria-apenas-na-docencia. Acesso em 08/6/2020

NEVES, Jorge Alexandre e CIRENO, Flávio (2020). Teletrabalho e segmentação econômica: uma nova fonte de desigualdade. Belo Horizonte, UFMG, Observatório Social da Covid 19; disponível em https://jornalggn.com.br/analise/teletrabalho-e-segmentacao-economica-uma-nova-fonte-de-desigualdade-por-jorge-alexandre-neves-e-flavio-cireno/. Acesso em 5/6/2020.

NUNES, J. H (2016) Gênero e raça no trabalho em tecnologia da informação. Disponível em http://revistas.unisinos.br/index.php/ciencias_sociais/article/view/csu.2016.52.3.09. Acesso em 11/6/2020

ORDEM DOS ADVOGAD0S DO BRASIL (2020) Quadro de Advogados Inscritos. Disponível em: https://www.oab.org.br/institucionalconselhofederal/quadroadvogados . Acesso em 05/06/2020.

SAP Consultoria em Recursos Humanos (2016) Pesquisa Home Office Brasil 2016, Campinas,  disponível em  www.pesquisahomeoffice.com.br, acesso em 7/6/2020.