No próximo dia 12 de setembro, o Programa de Pós-Graduação em Sociologia recebe o Prof. Dr. Fernando de Figueiredo Balieiro, da Universidade Federal de Santa Maria, que ministrará a palestra “Carmen Miranda entre os desejos de duas nações: cultura de massas, performatividade e cumplicidade subversiva“, dentro da programação das Quartas Sociológicas.
Em 1939, Carmen Miranda já estava consagrada profissionalmente no Brasil, embarcando para os Estados Unidos com um contrato para uma revista na Broadway, tomando sua viagem, aos olhos do público brasileiro, contornos de uma missão diplomática: representar o país no exterior e difundir o samba. A artista brasileira levava ao novo contexto, uma nova forma de representar o país que se redimensionava pela cultura de massas. Por esse meio, as expressões culturais populares e afro-brasileiras passavam a fazer parte da construção simbólica da nação, muito embora a partir de um filtro moral e racial que incorporava tais elementos caracterizando-os a partir da branquitude. Deste modo, Carmen Miranda interpretou com sua pele clara, olhos verdes chamativos e adequação à moda cosmopolita, a personagem negra da baiana que passava a ser ícone nacional. Ao migrar aos Estados Unidos, em pouco tempo chegou a ser a artista mais bem paga do cinema norte-americano, transformando-se em uma encarnação de uma nova imagem da América Latina, produzida em meio à Política de Boa Vizinhança. Levando consigo suas “baianas”, constituiu um espetáculo em cores, propiciado pelo cinema Technicolor, em uma representação una e fantasística de alegria e tropicalidade feminina da América Latina, dentro de um clima de amizade panamericana no sombrio período da Segunda Guerra Mundial. No novo contexto, o estereótipo da latino-americana de longa história no cinema hollywoodiano, se sobrepunha à figura da baiana, guardando conotações similares a ela, como a sensualidade. Passando do rádio ao cinema e tendo ainda atuado em programas na emergente televisão, a artista participou como protagonista do processo no qual a identidade nacional se redefinia por meio da cultura de massas e em uma dinâmica envolvendo representações nacionais e internacionais. Por meio do conceito de performatividade, esta pesquisa explora como a artista criou novos sentidos simbólicos sobre a nação e a América Latina, imbricando representações de gênero, raça e sexualidade, em cumplicidade com significados já consolidados e embasados na “colonialidade”, tanto em uma dimensão nacional como internacional. Embebida de sua trajetória na cultura popular, o humor, o exagero e a caricatura eram elementos constitutivos da forma como Carmen performatizava os sentidos simbólicos envoltos em suas representações. Foram estas características, juntamente com suas interpretações autoparodísticas e sua ironia, que permitiram que a carreira de Carmen fosse compreendida como desestabilizadora das identidades enquanto essências e questionadora das hierarquias socialmente instituídas, abrindo assim espaço para recepções divergentes e subalternas das quais se destacam a sua apropriação camp, nos Estados Unidos, e carnavalizadora, no Brasil.
Fernando de Figueiredo Balieiro é professor adjunto do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e docente do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da mesma universidade e, também, atua como professor colaborador do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Doutor e Mestre em Sociologia pela Universidade Federal de São Carlos. Desenvolve e orienta pesquisas sobre mídias, cultura e sociedade, com foco privilegiado nos aspectos de gênero, sexualidade e interseccionalidades nas mídias contemporâneas.
Data: 12/09/2018
Horário: 10 horas
Local: Auditório do CECH (Área Sul – Campus São Carlos – UFSCar)
Realização: Programa de Pós-Graduação em Sociologia
Apoio: Capes