NOTA DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SOCIOLOGIA DA UFSCar

O Programa de Pós-Graduação em Sociologia da UFSCar vem por meio desta manifestar
solidariedade às professoras Jacqueline Sinhoretto (PPGS/UFSCar); Jacqueline de Oliveira
Muniz (InEAC/UFF) e Marlene Inês Spaniol (Escola de Direito/PUCRS), ao mesmo tempo em
que repudia veementemente os ataques covardemente dirigidos a elas no dia 21/07/2020,
por meio da plataforma YouTube. Na ocasião, as três pesquisadoras realizavam uma live
promovida pelo Instituto de Estudos Comparados em Administração de Conflitos (InEAC),
discutindo reformas propostas na segurança pública a partir dos protestos antirracistas que
vêm se ampliando.
As postagens dirigidas às três pesquisadoras continham conteúdos de ódio, estímulo à
violência, machismo e misoginia, além de tentativas de desqualificação do longo e reconhecido
trabalho acadêmico e científico realizado pelas professoras nos temas da Segurança Pública e
da Administração de Conflitos. Os milhares de comentários agressivos postados na plataforma
não contribuem com o debate qualificado sobre o papel social das instituições policiais e seus
agentes. No lugar disso, o que se viu foi uma ação violenta de massas, no sentido arendtiano,
numa clara intenção de intimidar e ameaçar as pesquisadoras.
Ações de violência como essa têm ocorrido com muita frequência nas mídias digitais,
utilizando-se do anonimato para agredirem verbal e moralmente todas as pessoas dispostas ao
debate de ideias, ao diálogo democrático e à proposição de avanços nas políticas públicas.
Buscam, com isso, deslegitimar as pautas sociais voltadas à promoção da igualdade,
demonstrando asco às lutas históricas dos movimentos sociais. Neste caso específico, sob o
pretexto de se defender as instituições de segurança pública, os ataques virtuais miraram
individualmente as pesquisadoras, como também as pautas históricas do movimento negro,
que denunciam a violência policial e o genocídio da população negra e pobre, especialmente
os operadores mais jovens e mais baixos de mercados ilegais que estes mesmos maus policiais
achacam.
Vivemos no Brasil um período de profundos ataques à ciência, ao pensamento livre, e às vidas
de negros, mulheres, LGBTQIA+ e indígenas. No mesmo momento em que as marchas
“Vidas negras importam” ganham as ruas do mundo inteiro, contra a violência e o racismo
sistêmicos, num clamor por justiça social, agressores como esses presentes na live, querendo
desconhecer seu papel como agentes de proteção, atuam para blindar o país do urgente
processo de amadurecimento das políticas antirracistas, bem como da transformação de um
modelo de “segurança pública” que se tornou, nas últimas décadas, parte dos problemas que
o país possui, e não das soluções que o país precisa.
Tais atitudes não intimidam nosso compromisso histórico com a equidade, a justiça e a
pluralidade, que atravessam nossos projetos de pesquisa, extensão universitária, currículo, e
todas as nossas ações cotidianas mobilizadas dentro e fora da universidade. Estamos com
nossas colegas e seguiremos, com elas, trabalhando pela ciência pública e pela mudança, com
coragem e respeito ao jogo democrático.

São Carlos – SP, 23 de julho de 2020.